Recomendações Básicas para Cavernas e Trilhas (rev. 19/06/2014)

Gilson Tinen.

 

INTRODUÇÃO

É bastante comum na espeleologia enfrentarmos caminhadas relativamente longas através de trilhas, seja para alcançarmos a boca de uma caverna mais afastada, seja em trabalhos de prospecção em campo. Neste contexto, consideraremos como “longa” qualquer trilha que exija mais de meia hora de caminhada. Trinta minutos de caminhada equivale a uma distância entre dois e três quilômetros, dependendo do peso da mochila e da dificuldade da trilha.

Embora esta distância não seja exatamente “longa”, devemos considerar que existe a possibilidade do tempo de percurso se estender para muito além do que gostaríamos em decorrência de fortes chuvas, inundação de condutos e rios, acidentes, desvios de rota e outras tantas ocorrências a que estamos sujeitos nas trilhas e cavernas.

E, para que tenhamos uma jornada tranquila, sempre devemos estar adequadamente preparados. Claro que uma boa ou razoável forma física ajuda muito. Mas com alguns itens na mochila e algumas poucas providências podemos tornar muito confortáveis, prazerosas e, principalmente, bastante seguras estas travessias.

Desde já alerto que sempre é muito difícil conciliar orientação básica à brevidade e completude dos textos. E este não é exceção. Assim, ao final indico alguns livros para que você possa expandir seus conhecimentos a respeito de montanhismo, excursionismo e espeleologia e para que você forme sua própria convicção a respeito destes assuntos. Periodicamente este texto será atualizado com vistas a acrescentar ou corrigir informações.

Seguindo adiante, as primeiras providências a serem tomadas sempre que decidimos partir em direção a regiões mais afastadas, são:

01) Juntar o máximo de informações possíveis a respeito do que será enfrentado adiante, a fim de carregarmos em nossas mochilas apenas o que for necessário. É muito comum carregarmos equipamentos que não serão utilizados, e, ao mesmo tempo, sentirmos falta de itens que foram deixados em casa, no carro ou no acampamento base. Não carregue peso à toa nem se submeta à privações. Informe-se antes de partir para a aventura. Também, sempre observe o que as pessoas mais experientes estão carregando e questione-as caso tenha dúvidas.

02) De posse das informações, faça uma lista dos itens que deverão ser colocados na mochila. A cada saída deveremos revisar esta lista, fazendo ajustes de acordo com a experiência adquirida e com aquilo que nos aguarda na nova jornada (reforçando a providência 01 acima).

03) Avisar familiares, a administração dos parques ou pessoas que conheçam a região de destino. Caso tudo dê errado, esta poderá ser a única chance de retorno à civilização.

04) Espeleologia é uma atividade coletiva. E, com relação àquilo que será colocado na mochila, existirão os itens de utilização pessoal e os itens de utilização coletiva. De início, preocupe-se unicamente em carregar seus itens de utilização pessoal. Os itens de utilização coletiva sempre serão separados e distribuídos para transporte entre os membros da equipe pelo pessoal mais experiente. Em caso de dúvidas, questione-os.

 

MOCHILAS

Se você começou a praticar a atividade faz pouco tempo, saiba que não é imprescindível a aquisição de uma boa mochila. Pelo menos, neste início de atividade. Em espéleo utilizamos o “saco de espéleo” ou “mochila de caverna”. Ela é normalmente confeccionada com um material bastante grosso e resistente à abrasão o que possibilita seu arraste sobre as rochas. Elas são muito duráveis e suportam os maus tratos. Perceba que estas mochilas não possuem bolsos externos nem são equipadas com zíper. O fato é que bolsos só servem para enroscar dentro das cavernas e os zíperes emperram quando sujos de lama. E, frequentemente, estas mochilas serão arrastadas na lama. Algumas mochilas, mais frágeis, possuem um dispositivo de fechamento da boca, semelhantes aos sacos estanques, que as tornam impermeáveis. Mas com o passar do tempo esta vedação deixará de funcionar, pois será inevitável o surgimento de furos, cortes e rasgos quando as utilizarmos em cavernas. Vejamos, elas não foram projetadas para este tipo de uso.

Sacos de Espéleo

 

Por outro lado, embora as mochilas de caverna sejam perfeitas para serem arrastadas nos tetos baixos e subidas de abismos, nas trilhas elas são bastante desconfortáveis vez que normalmente não possuem barrigueira, nem isolamento eficiente nas costas, nem alças acolchoadas.

Todas estas características estão presentes (ou deveriam estar) nas mochilas de trilha. A barrigueira permite que o peso da mochila seja transferido dos ombros para a cintura, baixando o ponto de equilíbrio e estabilizando nossos passos. A proteção nas costas serve para que não sejamos “cutucados” nas costas pelas tralhas que carregamos dentro da mochila. As alças acolchoadas (inclusive da barrigueira) servem para distribuir o peso da carga numa área maior de nosso corpo, diminuindo a pressão em pontos específicos e aumentando o conforto durante as longas caminhadas.

Entretanto, como as mochilas de trilha não foram feitas para serem arrastadas dentro de cavernas, não tardará o surgimento de rasgos, furos e emperramento de zíperes. Assim, você deverá optar entre o conforto das mochilas de trilha ou a grande durabilidade das mochilas de caverna ou sacos de espéleo.

Mochilas de Trilha

 

Já para as incursões longas, onde se pretenda passar vários dias em trabalhos de prospecção, exploração, etc., é inevitável a utilização de mochilas cargueiras. Estas mochilas são suficientemente grandes para que possamos transportar com absoluto conforto o saco de dormir, isolante térmico, panela, fogareiro, comida, agasalho, barraca, etc. Não é raro nossas mochilas cargueiras ficarem com 15-20 quilos de carga.

Em contraposição às mochilas cargueiras que podem passar dos 100 litros, as mochilas pequenas estudadas anteriormente são conhecidas como “mochilas de ataque” seja a de trilha, seja a de caverna.

Mochilas Cargueiras

 

 

OS DEZ ITENS A SEREM COLOCADOS NA MOCHILA

Adiante na montagem da mochila, relaciono a os itens por ordem de essencialidade.

01) Água e comida. Mais básico e essencial que isto, impossível. Como cantil, é possível a utilização de garrafas PET de refrigerante vez que são muito leves e resistentes, vedam complemente o bocal e podem ser amassadas quando vazias ou parcialmente vazias, para poupar espaço na mochila. E é o que basta. Quanto à comida, depende do gosto, apetite e do tempo de permanência na trilha. Quanto mais longínquo ou penoso for o local de trabalho, mais atenções deverão dar a este item. Não é raro termos nossa volta retardada ou impedida durante um período relativamente longo devido a uma forte chuva, inundação de conduto ou acidente com um companheiro de trilha, a despeito de todo cuidado que tomemos.

02) Capacete. Não se adentra uma caverna sem um capacete sobre a cabeça. E é muito frequente este item ser esquecido no carro ou no acampamento base. Neste caso, somente restará a este esquecido participante ficar na boca da caverna aguardando seus companheiros retornarem da aventura. Prefira os capacetes com suspensão de fita e certificados pelo INMETRO, CE, etc.

03) Fonte de luz primária. A fonte de luz primária deve estar presa ao capacete para permitir ambas as mãos livres. Também, não se deve esquecer as pilhas ou baterias extras e carregadores. Até alguns anos atrás, utilizava-se como iluminação primária padrão a chama resultante da queima de acetileno gerado nos reatores ou carbureteiras. Em diversas localidades tal prática foi abolida. Informe-se antes de partir para a aventura.

Dica: ao caminhar pelas trilhas durante o dia, prefiro usar um boné. Protege do sol e impede que a chuva escorra nos olhos. O capacete vai dentro da mochila vez que é pesado e sempre enrosca na vegetação fechada. Ao escurecer troco o boné pelo capacete. Acendo a luz primária e sigo adiante. Caso a luminosidade atraia insetos em quantidade suficiente para encher a boca, nariz e olhos, coloque o capacete debaixo do braço, carregue-o nas mãos ou use a lanterna (luz secundária). Por fim, uso uma bandana sob o capacete. Isto protege a testa da fricção causada pelo suporte interno do capacete (também conhecido como “carneira”). Pior ainda quando temos terra ou areia grudada na testa por causa da transpiração.

04) Fonte de luz secundária. Uma pequena lanterna e, claro, pilhas extras fazem parte do “kit fundamental” de trilha e caverna e devem sempre estar à mão. Caso queira investir numa boa lanterna, prefira as que iluminam a partir de led (ao invés de lâmpadas incandescentes) vez que proporcionam boa luminosidade com baixíssimo consumo. Melhor ainda se cumulativamente esta lanterna for a prova d’água ou, mesmo, resistente à água. A diferença entre “a prova d’água” e “resistente à água” é que a primeira pode ser mergulhada, respeitada a profundidade máxima admitida pelo fabricante. “Resistente à água” que dizer que você pode usar este equipamento sob a chuva ou eventualmente mantê-lo mergulhado por alguns minutos sob a água rasa.

05) Agasalho e roupa seca. Nas longas trilhas, ainda que sob um sol de rachar, carregar na mochila uma camiseta extra e um agasalho (blusa de lã) dentro de um pequeno saco estanque é uma prática altamente recomendável, seja para se aquecer num ponto abrigado, seja para enfrentar uma fria madrugada na qual se adentrou em decorrência de inesperados contratempos. Aliados à capa de chuva ou ao anorak (será visto adiante), nada proporcionará mais conforto e alento do que estar seco e aquecido a despeito de qualquer tipo de problema. Para substituir o saco estanque, podemos usar três sacos plásticos de supermercado. Coloque as roupas dentro do primeiro saco, tire o ar e amarre a boca. Em seguida, coloque este saco dentro do outro saco, tire o ar e amarre a boca. Repita a operação com o terceiro saco. Seguinte… embora isto funcione, ainda que tenhamos que fazer pequenas travessias a nado, isto é uma tremenda gambiarra. Assim que possível adquira um pequeno saco estanque. É barato e seguro, além de permitir submergir completamente sua mochila sem correr nenhum risco de molhar suas roupas. Com relação à blusa de lã, este é um dos poucos materiais que aquecem mesmo estando molhado. E a razão disto é que a lã é capaz de reter ar em sua trama ainda que encharcada. É exatamente esta camada de ar que proporciona o isolamento do ambiente externo. O calor provém de seu próprio corpo e fica retido sob a blusa de lã. Duas blusas finas de lã reterão mais ar que uma única blusa de lã grossa.

06) Estojo de Medicamentos. Este item é fundamental, mas não exagere. Mais importante do que carregar uma filial da Drogaria do Povo nas costas, é sempre carregar consigo os medicamentos pessoais. Por exemplo, pessoas que possuem reação alérgica à picada de insetos, devem carregar anti-histamínico e repelente em sua mochila. Meninas que sofrem cólicas eventuais devem carregar antiespasmódico em sua nécessaire. Pessoas que fazem algum tratamento médico devem carregar os medicamentos prescritos. Pessoalmente, sempre carrego descongestionante nasal e analgésico para minhas eventuais cefaleias. Além disto, sempre tenho comigo spray antisséptico, repelente de insetos spray, band-aid, esparadrapo à prova d’água e pastilhas de cloro para purificar água. Claro que nem todos estes itens referem-se a “medicamentos”, mas estão todos juntos e acompanham-me em todas as saídas. Percebeu que em nenhum momento eu citei “Primeiros Socorros” ? É que Primeiros Socorros são ações visando a preservação da vida e significa muito mais que um conjunto de equipamentos ou de medicamentos. Requer treinamento específico e reciclagem periódica. Fique atento aos treinamentos promovidos pelo GPME.

07) Capa de chuva ou anorak. Na Mata Atlântica não é raro um amanhecer ensolarado e um entardecer chuvoso. Assim, para manter o calor corporal sob a chuva enquanto andamos pela trilha, nada é mais fundamental do que uma capa de chuva ou um anorak. Para os iniciantes em trilhas, basta aquela capa plástica vendida em estádios de futebol. É muito leve, ocupa pouco espaço na mochila e é muito barato relativamente à sua utilidade. Com o tempo ou com disponibilidade financeira é melhor adquirir um anorak. Além de proteger da chuva, o anorak corta o vento, assim impedindo a perda de calor corpóreo mesmo em locais abertos como no alto de uma montanha. Alguns anoraks possuem aberturas sob os braços e nas costas com vistas a permitir a ventilação, ainda que sob um temporal. Mas, sinceramente, nunca vi este recurso funcionar a contento. Protegidos pelo anorak, em trilhas sob chuva, é muito comum ficarmos complemente ensopados pela nossa própria transpiração. Entretanto, permanecemos aquecidos, pelo menos enquanto estivermos andando e assim gerando calor pela movimentação física. Assim, sob a chuva não devemos jamais prolongar as paradas para descanso além do necessário. Quando estamos parados a roupa molhada (pela chuva ou pela transpiração) rapidamente resfria o corpo e o risco de hipotermia é muito grande. A hipotermia é causada pela exposição prolongada ao frio. Quando se perde mais calor do que a quantidade que o organismo consegue gerar, temos o quadro de hipotermia e pode ocorrer ainda que em regiões de clima tropical como o Brasil. O contato com a água é a principal causa de hipotermia na espeleologia. Entretanto, estando adequadamente equipado podemos anular ou minimizar este problema.

08) Fonte de fogo. Basta um isqueiro guardado dentro do saco estanque (ou das três sacolas de supermercado…). Alerto que somente deverá ser utilizado em caso de emergência diante de um quadro de hipotermia. Veja que é terminantemente proibido fazer fogueiras em Parques Estaduais ou Nacionais, Áreas de Proteção Ambiental, Unidades de Conservação, etc. E se você foi suficientemente cuidadoso e colocou na mochila os itens anteriores, dificilmente terá que usar este recurso. Mas, de qualquer maneira, é bom tê-lo guardado dentro do saco estanque ou dentro de um tubo estanque para comprimidos efervescentes (Redoxon). Isqueiros molhados são absolutamente inúteis. Nas bocas das grutas e abrigos, a salvo da chuva, é quase sempre possível encontrar galhos secos para fazer uma fogueira e se manter aquecido até que as coisas melhorem. Mas em trilha aberta sob a chuva, talvez seja mais prudente manter-se em movimento em direção a um ponto seguro.

09) Canivete. Embora existam canivetes com dezenas de funções, as mais importantes são a lâmina grande e a lâmina serrilhada para cortar galhos. Numa situação de emergência talvez seja necessário cortar tiras da própria roupa para enfaixar um companheiro ou então cortar um galho para construir, por exemplo, um apoio para alguém que tenha torcido o tornozelo ou o joelho.

10) Apito. Este é um item básico de sobrevivência. Nossas cordas vocais não suportam mais do que alguns minutos vibrando aos gritos. Em pouco tempo ficamos roucos ou perdemos completamente a voz. Por outro lado, podemos passar vários dias soprando um apito. Este equipamento permite comunicações pré-convencionadas a uma distância relativamente longa, além de auxiliar equipes de resgate na sua localização. Carregue sempre. É leve, barato e, no limite, poderá ser a única esperança de retorno à civilização. Prenda-o no capacete, canivete ou na lanterna ou, ainda, um em cada um destes equipamentos.
Para se iniciar em cavernas e trilha, é o que basta. Roupas de banho sob a vestimenta permitirão curtir um rio, cachoeira ou um lago nas proximidades. Poderíamos acrescentar aos itens a serem carregados na mochila o protetor solar, óculos escuro, boné, repelente de insetos e câmera fotográfica. Quem sabe, até um chinelo e uma toalha. Sim. Passeio e diversão fazem parte da coisa.

 

OS DEZ ITENS QUE AUMENTAM O CONFORTO E A SEGURANÇA

Ultrapassada a lista de itens essenciais a serem transportados em trilhas e cavernas, seguimos adiante com os equipamentos que requerem um pouco mais de investimento e que equiparão aqueles que pretendem praticar a espeleologia com mais frequência e seriedade. Assim, a estes recomendo fortemente:

01) Bota de trilha. Botas de trilha são caras e pesadas. Mas são extremamente duráveis e resistentes. O cano ou gola alta protegem os tornozelos de pancadas e torções. Os cadarços permitem o perfeito ajuste aos pés. O solado, normalmente bastante rígido, proporciona estabilidade ao caminhar em pisos irregulares, ao invés de sofrerem torções, como num tênis. Sempre utilize a bota de trilha com dois pares de meias de algodão. Isto impedirá que areia e pedriscos que insistem em entrar dentro da bota causem qualquer incômodo. Para tanto, é necessário comprar a bota com numeração maior (um ou dois números) para acomodar confortavelmente os pés e estes dois pares de meia. Dica importante, não se estreia uma bota nova em trilhas, cavernas e montanhas. Dê um jeito de usá-las na cidade antes de colocá-las para ralar. A melhor maneira de não ter bolhas nos pés é evitando-as a todo custo. Caso ainda assim surjam bolhas, a solução é aplicar diretamente sobre a pele um pedaço de silver tape. Esparadrapo a prova d’água também funciona, mas como tem baixo poder de adesão, fatalmente sairá do lugar, expondo doloridamente a área de tecido lesionado.

Dica: Nos últimos anos estamos utilizando botas de segurança industrial que são muito baratas (entre R$ 60,00 e 120,00) e extremamente resistentes. Alguns modelos possuem biqueira antiesmagamento e solado antiperfurante, bastante útil no sertão, onde os espinhos de mandacaru conseguem transpassar solado de coturno. Além disto, possuem todas as outras características das boas botas de trilha.

02) Luvas de raspa de couro. Quanto mais o terreno é irregular, escorregadio e inclinado (ou tudo isto simultaneamente) mais utilizamos as mãos como apoio aos nossos passos. E é bem freqüente, da pior maneira possível, descobrirmos espinhos e superfícies cortantes ou ásperas a cada metro do calvário. Assim, nada mais adequado do que um bom par de luvas. Poupe suas mãos.

03) Macacão. No sul e sudeste, devido ao clima mais frio e chuvoso e a presença de água fria nas cavernas, normalmente são utilizados macacões confeccionados em nylon e cordura. O nylon é razoavelmente resistente à abrasão e retém pouca água. Assim, seca rapidamente e evita a perda excessiva de calor corpóreo. Já a cordura tem alta resistência à abrasão e é utilizada como reforço nas áreas de maior atrito do macacão. Sua trama impede que se abram rasgos no tecido. Assim como o nylon, retém pouca água o que acelera sua secagem. Embora quando utilizado em trilhas ensolaradas tenha um efeito de “cozimento a vapor” você evitará as escoriações provocadas pela vegetação, ainda mais se a trilha for fechada ou, pior, se não existir trilha a ser seguida. Já no nordeste é normal a utilização de macacões de algodão de mangas curtas devido ao clima quente e seco. No geral, macacões evitam a entrada de terra, areia e pedriscos dentro das roupas. Também evitam a exposição de partes do corpo quando nos arrastamos pelos tetos baixos. Observação importante, nas saídas para localidades com temperatura mais elevada, compre pelo menos dois ou três macacões de algodão. Enquanto um está sendo lavado no acampamento base, o outro estará sendo utilizado na caverna ou trilha. De outro modo, com a forte transpiração, você poderá acabar sendo identificado apenas pelo cheiro. Evite este embaraço. Um reforço extra de cordura nos joelhos e na “traseira” prolongará sua vida útil. Bons macacões confeccionados em nylon e cordura encontram-se a venda no exterior, Europa, em especial. Aqui no Brasil, normalmente quem os fabrica são caverneiros que assumiram a árdua tarefa de correr atrás de costureiras ou, ainda, de pilotar uma máquina de costura. Se você tiver a sorte de conseguir encomendar ou comprar um destes macacões, não perca a oportunidade.

Dica: Em saídas de prospecção ou em direção às longínquas cavernas através de trilhas, recomendo jamais trajar bermuda, bem como calçados abertos (chinelo, papete, etc). Calças compridas (ou macacões) e calçados fechados (botas) são as vestimentas adequadas para estas incursões.

04) Demais peças de roupas de tecido sintético. O algodão é o material mais confortável que existe. O problema é que ele somente tem esta propriedade enquanto está seco. Depois de molhado demora muito tempo para secar vez que absorve grande quantidade de água. Esta característica é potencialmente mortal quando se anda em trilhas ou cavernas. Assim, na medida do possível, substitua todas as peças de roupa de algodão (ou que possua algodão em sua trama) utilizadas em trilhas e cavernas por peças de tecido sintético. Sob o macacão de nylon normalmente utilizo uma bermuda de lycra e uma camiseta de tecido sintético. Caso esteja frio, sobre a bermuda eu visto uma calça comprida e uma blusa de manga longa (segunda pele). Não bastando, visto por cima destas peças uma blusa de lã velha. Caso a caverna possua rios e lagos, onde o contato com a água gelada será prolongada, sobre a segunda pele visto uma roupa de neoprene conhecida como Long John de pelo menos 3 milímetros de espessura (vide item adiante). Isto permite enfrentarmos com absoluta tranquilidade as cavernas paulistas que possuam caudalosos e frios cursos d’água. Perceba que o macacão de nylon e cordura sempre estará vestido sobre todas as demais roupas utilizadas.

05) Saco estanque. Embora já citado nos itens básicos individuais, repito a indicação. Dentro dele poderão ser guardados, além das roupas secas, os medicamentos, o isqueiro, os equipamentos eletrônicos (máquina fotográfica, GPS, etc.) e o lanche de caverna. Por possuir mil-e-uma utilidades este é um equipamento que vale a pena ser adquirido. Nos últimos tempos têm surgido sacos entanques em nylon resinado que não resistem nem à abrasão dentro da mochila. Evite-os. Não servem para nada.

06) Fonte de luz terciária. Não é raro a luz primária pifar. E, quando isto ocorre, recorremos à luz secundária. Entretanto, é bastante incômodo desenvolver atividades em cavernas segurando uma lanterna nas mãos. Logo, não seria excesso de zelo carregar na mochila uma terceira fonte de luz que possa ser presa no capacete, como, por exemplo, uma lanterna de corpo estreito com a ajuda de duas braçadeiras de nylon, ou, ainda melhor, uma head lamp extra, ainda que de baixo custo.

07) Neoprene. Item indispensável quando iremos passar muito tempo em contato com a água fria de rios e lagos subterrâneos. O neoprene possui bolhas de ar que isolam a pele do contato direto com a água gelada. Um Short John de 3 mm de espessura é um ótimo investimento. Para os mais precavidos e friorentos, um Long John de 5 mm talvez seja uma melhor escolha. Mas tome muito cuidado ao utilizar estas roupas. Tão perigoso quanto a hipotermia é a hipertermia (excesso de calor). Assim que começar a sentir calor, pare imediatamente, baixe a parte de cima do macacão de neoprene e enrole-o na cintura sob o macacão de nylon ou resfrie o corpo deitando no curso d’água. Pessoalmente, uso um Long John de 5 mm composto de duas peças. Trata-se de uma jardineira de 5 mm e sobre esta uma jaqueta de 5 mm de manga longa. No tronco, a espessura do neoprene alcança 10 mm de espessura. Perceba que estas vestimentas não têm o objetivo de vedar completamente o contato com a água. A água circulará por dentro do traje de neoprene, mas numa velocidade suficientemente baixa para não roubar calor corpóreo em demasia. Uma roupa de neoprene adequada deverá ser bem justa nas coxas e antebraços, no caso do Short John ou nos tornozelos e punhos no caso do Long John. Dica importante, jamais enfrente trilhas ensolaradas de média ou longa distância trajando neoprene. De outro modo, a hipertermia será certeira. Carregue na mochila e vista o traje na boca da caverna. Lembrando, o neoprene é um material que tem baixa resistência à abrasão das rochas. Assim, vestir por cima dele um macacão de nylon e cordura prolongará sua vida útil.

08) Salva-vidas. Este equipamento proporciona uma tranquila travessia de trechos de águas profundas. Caso esteja trajando neoprene, tal equipamento será dispensável, vez que o neoprene proporciona boa flutuabilidade. Um grupo pequeno pode compartilhar um colete salva-vidas, desde que se tenha à mão uma corda para puxá-lo de volta a cada travessia.

09) Manta térmica. Um bom planejamento, uma razoável forma física e uma mochila adequadamente montada quase sempre serão suficientes para superar as situações normais de trilha e, inclusive, quase todos os imprevistos que possam surgir. Entretanto, quando tudo der errado e tivermos que parar na trilha por muito tempo sob a chuva ou com as roupas molhadas, é bom ter à mão uma manta térmica que é uma fina película plástica com superfície espelhada. Ao nos enrolarmos nela, como num cobertor, ela tem a propriedade de reter o calor corpóreo.

10) Perneira. Muito importante sua utilização em áreas com alta ocorrência de ofídios (cobras). Muitas serpentes possuem a capacidade de mimetização (imitação do meio circundante). Assim, elas podem ficar “invisíveis” até que estejamos suficientemente próximos do alcance de seu bote. Utilize sempre que tiver informações de alta incidência de ofídios na região que irá explorar e, independentemente de qualquer coisa, sempre preste atenção aonde coloca seus pés e suas mãos.

 

O TESOURO

O Tesouro é um compartimento estanque ou protegido por um saco estanque sem uma forma ou tamanho pré-definido que sempre estará no fundo da mochila para qualquer lugar que formos. Nele guardamos itens diversos que podem nos tirar de um aperto ou melhorar nosso conforto. Algumas pessoas colocam nele apenas itens pequenos e uteis. Outros guardam nele até comida enlatada. Não há consenso a respeito disto. Seu conteúdo, portanto, pode ser composto pelos medicamentos e pilhas reservas antes citados, acrescido de uma infinidade de outras quinquilharias juntadas conforme a visão, experiência e expectativas daquele que o constitui.

Quando utilizamos um recipiente grande como um bidon de seis litros, sobrará espaço para o lanche de caverna e outros itens que precisam ser mantidos a salvo da água, da compressão e dos trancos na mochila.

Sugestões de itens para composição de seu tesouro:

 

item Descrição e utilização Quantidade

Conforto Térmico

Manta térmica Também conhecido como cobertor de emergência, é um filme plástico com superfície espelhada utilizada para retenção de calor corpóreo a fim de se evitar ou combater o estado hipotérmico. 01 unidade
Pregador de roupa, rolo de barbante e velas Para montar um ponto quente.
Isqueiro Para iniciar uma fogueira. Recurso a ser utilizado somente em caso de emergência, dada sua proibição nas Unidades de Conservação. 02 unidades
Fire Starter Para iniciar uma fogueira. Funciona mesmo molhado. Azteq ou Colleman 01 unidade

Iluminação

Headlamp Dada a característica da atividade espeleológica, é bastante adequado termos um recurso extra de iluminação além das três ou quatro que normalmente utilizamos. Ainda melhor se esta iluminação puder ser fixada no capacete ou pendurada no pescoço (com o facho voltado para frente). 02 unidades
Velas Proporciona luz por quase uma hora. Poupa as pilhas/bateria das lanternas e pode servir como combustível. 02 unidades

Medicamentos

Afrim Descongestionante nasal 01 frasco de 10 ml
After Bit Xtra Tratamento da coceira, ardor e do inchaço causado por picadas de insetos e outros (abelha, vespa, formiga-de-fogo, água viva, etc.). Reduz o prurido e alivia rapidamente o desconforto. 01 tubo de 20 g
Álcool 70° (sache) Desinfetante e esterilizante. Também pode ser utilizado como combustível. Permite dispensar o frasco de álcool e da gaze estéril. 01 frasco de 30 ml
Aspirina Analgésico, antipirético e anti-inflamatório. 04 comprimidos
Buscopan Antiespasmódico utilizado no combate de cólicas estomacais, intestinais, renais e menstruais 04 comprimidos
Imosec ou Lomotil Antidiarreico. 04 comprimidos
Meclin ou Dramin Anti enjoo. O Meclin não dá sono. 04 comprimidos
Nebacetim Profilaxia nas infecções cutaneomucosas decorrentes de cortes, abrasões, queimaduras pouco extensas e ferimentos. 01 tubo de 10 g
Omeprazol Utilizado para combate dos sintomas da gastrite e esofagite de refluxo. 04 comprimidos
Plasil Antiemético ou anti-vômito. 01 frasco 10 ml
Polaramine Anti-histamínico utilizado em alergias, urticária, prurido, rinites alérgica, picada de inseto, conjuntivite alérgica, dermatite atópica e eczemas alérgicos. Poderá ocorrer sonolência após sua ingestão. 04 comprimidos
Sal de frutas Eno Antiácido para combate da azia e má digestão 02 envelopes
Voltarem Antirreumático, antipirético e analgésico. 04 comprimidos

Itens de farmácia e assemelhados

Agulha de injeção A agulha de injeção tem extremidade cortante. É útil para extração de espinhos completamente encravados na pele ou para drenagem de bolhas. Carregue com sua capa protetora e esterilize-a antes de usar. Corte a pele próxima à extremidade mais exposta do espinho e puxe-o para fora com uma pinça. Desinfete o corte na pele após a extração. Em casos mais graves é melhor procurar um hospital. 01 unidade
Band Aid Curativo adesivo para pequenos ferimentos 05 unidades
Clor-in 1 ou Hidrosteril Purificador de água. A cartela de Clor-in 1 possui 30 comprimidos, mas ocupa menos espaço que o frasquinho de Hidrosteril de 50 ml.  Supõe que se esteja portando um recipiente para transporte da água. 01 cartela ou 1 frasco de 50 ml
Cotonete Utilizado para remover ciscos dos olhos ou aplicação de medicamentos. Carregue alguns embalados em Magipack. 06 unidades
Esparadrapo impermeável Utilizado na fixação de bandagens ou para proteção de corte na pele. O Micropore tem baixa adesão e se solta quando umedecido. Também pode ser utilizado para recobrir bolhas nos pés. Em todo o caso, o Silver Tape substitui com vantagens este item, evitando-se a sobreposição de recursos. 01 rolo pequeno
Luvas descartáveis de látex Utilizado na proteção do socorrista e para não agravar a contaminação do ferimento. 02 pares
Máscara para RCP Máscara para ressuscitação cardiorrespiratória 01 unidade
Pinça pequena Utilizada na remoção de espinhos. Os canivetes costumam ter uma pinça embutida em seu corpo. 01 unidade
Preservativo masculino Além da utilização mais corriqueira, serve como recipiente para água numa emergência. Devido à fragilidade do material, quando do transporte de água deverá ser envolto numa bandana ou camiseta. É possível transportar por volta de dois litros de água. 02 unidades
Protetor solar  Proteção contra os raios solares 01 frasco
Ben´s 100 Max Formula ou  Exposis Extreme Repelente poderoso contra mosquitos e carrapatos. 01 frasco
Sabonete Útil para higienização dos ferimentos e das mãos do socorrista quando se tem água corrente disponível. Um corte de sabão de coco, suficientemente pequeno ou 1/3 ou 1/4 de um sabonete Protex é o que basta. 01 unidade
Termômetro Para acompanhamento do enfermo. 01 peça
Lista de medicamentos Com anotação do nome, data de validade, para que servem e dosagem. Não se aplica

Utensílios e assemelhados

Alicate dobrável multiuso Substitui o tradicional canivete com muitas vantagens. Além da lâmina lisa grande, deve possuir a lâmina serrilhada para cortar galhos para confecção de talas de imobilização ou bastões de apoio para pessoas com tornozelo torcido ou joelho lesionado. 01 unidade
Apito Comunicação, sobrevivência e resgate. 01 unidade
Bloco de Papel e Lápis Para anotações de informações importantes em campo, para deixar recados, etc. 01 bloco e 01 lápis
Braçadeiras de nylon Utilização geral. Interessante ter alguns tamanhos diferentes. Dois ou três de cada tamanho é o que basta. 02 a 04 de cada tamanho
Bússola Equipamento de orientação. Pode ser equipada com mira para visada ou espelho. 01 peça
Canivete Utilização geral. Ainda melhor se possuir abridor de latas, lâmina serrilhada, pinça e tesoura. 01 peça
Cordim de 2mm Utilização geral. Quem sabe uns dois metros ? 02 metros
Dinheiro Trocados de emergência 20 Reais
Linha de nylon e agulha de costura Para remendar alças e rasgos na mochila, fundilho de calças, etc. A linha pode ser substituída por fio dental. 01 rolo de linha e 01 agulha
Mosquetão Utilização geral. Pode ser substituído com vantagens por duas malhas rápidas médias. 02 malhas rápidas ou 01 mosquetão
Silver Tape Utilização geral. Não precisa ser um rolo inteiro (muito grande). Pode ser enrolado alguns metros no isqueiro. 02 metros
Superbonder Utilização diversa 01 tubo
Tesoura Utilização diversa. Dispensável se tiver no canivete ou no alicate dobrável. 01 unidade
Wire Saw Serrote no formato de fio de aço. Útil para cortar galhos grossos. Pode ser substituído pela lâmina serrilhada do canivete ou no alicate dobrável. 01 unidade

Compartimento estanque

Caixa estanque, Tuppeware, Saco estanque, Bidon, Necessaire, etc. O tesouro deve ser estanque ou estar dentro de um saco estanque. Não é excesso de zelo colocar um tesouro estanque dentro de um saco estanque ou utilizar dois sacos estanques, um dentro do outro. Não se aplica

 

Com relação aos medicamentos, é fundamental imprimir e guardar dentro do tesouro uma pequena lista contendo a aplicação, dosagem e data de vencimento de cada um deles, conforme consta na embalagem e bula, a menos que você seja médico ou tenha uma memória infalível:

 

Nome Aplicação Dosagem Vecto
Buscopan Espasmos 1-2 cp 3-4 x dia. Ago/2014
Imosec Diarreia 2 cp e 1 após evacuação. Max. 8 dia Set/2015
Meclin Enjoo 1-2 cp 1 hora antes da viagem Set/2014
Nebacetin Ferimentos na pele 2 a 5 aplicações por dia Jun/2014
Omeprazol Gastrite e esofagite 1 cp ao dia antes café da manhã Jun/2014
Plasil Vômito 1 cp 3 x dia 10 min antes refeições Ago/2017
Polaramine Alergia 1 cp 3-4 x dia. Max 6 dia Jun/2014
Voltarem Dor e Inflamação 2 cp 3 x dia Jun/2014

 

Mais sugestões de itens para serem transportados no tesouro, na mochila ou para serem deixados no acampamento base:

 

item Descrição e utilização Quantidade

Iluminação

Lanterna pequena (tesouro) Quarta e quinta fonte de iluminação. Ultimo recurso para permitir evacuação imediata. Dada a natureza da atividade espeleológica, não seria exagero portar duas lanternas pequenas, pelo menos uma delas para ser fixada no capacete. Interessante, também, ter 2 jogos de pilhas/baterias extras. 02 lanternas

Itens de farmácia e assemelhados

Colher padrão para soro caseiro (acampamento base) Proporciona a exata medida para preparo do soro caseiro, especialmente útil quando o enfermo está com diarreia. 01 unidade
Escabin (acampamento base) Sabonete carrapaticida. 01 unidade
Papel higiênico (mochila) Além da tradicionalíssima utilização, pode servir como mecha para iniciar uma fogueira. Se embebido em óleo, pode manter o fogo por tempo prolongado. Melhor mantê-lo seco dentro do saco estanque. ½ rolo

Utensílios e correlatos

Boné (mochila) Proteção do sol e da chuva 01 unidade

 

Observações a respeito do tesouro e dos outros itens:

01) O Tesouro é item pessoal. Em outras palavras, cada um deve ter o seu.

02) Não pretendemos incitar a automedicação. A lista de medicamentos apresentada é apenas sugestiva, pode ser comprada em qualquer farmácia sem receituário médico e procura cobrir as enfermidades que mais comumente ocorrem em campo. Você deverá compor sua própria lista de medicamentos adaptando-a sob a orientação de seu médico. Inclua os medicamentos de sua utilização pessoal e elimine e/ou substitua aqueles que lhe causem reações orgânicas adversas. Caso tome medicamentos com controle de horário, carregue-os sempre. Não temos como prever se estaremos de volta num determinado dia e horário.

03) Medicamentos possuem data de fabricação e de validade. Quando vencidos devem ser descartados e substituídos.

04) Vários medicamentos possuem quantidades previstas nesta lista para um ou dois dias, tempo suficiente para abortar a aventura e procurar auxílio médico caso persista a enfermidade. Caso vá para lugares remotos onde o tempo de retorno à civilização supere dois dias, reveja as quantidades da lista.

05) Vários medicamentos possuem cartelas com quantidades maiores do que as indicadas. Neste caso, recorte a quantidade desejada, tomando cuidado para não danificar a embalagem de proteção expondo o medicamento ao ar. Caso isto ocorra, descarte o medicamento exposto. O restante do medicamento fica em casa guardado em sua embalagem original para reposição conforme forem sendo consumidos e para acompanhamento do vencimento.

06) Medicamentos não são primeiros socorros. Primeiros socorros são ações que visam preservar a vida ou diminuir os riscos e o desconforto do acidentado. Estas ações devem ser treinadas periodicamente para pronta utilização frente a uma emergência.

07) Quando existente aplicações em spray estas são preferidas vez que evitam o contato das mãos com a superfície de aplicação.

08) Vários itens podem ser inúteis para você. Elimine-os da lista e acrescente aqueles que você considera importante.

09) Vários itens não se referem à aplicações de emergência em campo (por exemplo, repelente, protetor solar ou sabonete carrapaticida). Decida quais itens comporão o seu tesouro e quais ficarão no acampamento base, veículos de transporte ou na mochila de ataque.

10) O tesouro é apenas mais um item a ser colocado na mochila nas incursões por trilhas e cavernas e deverá ser suficientemente pequeno para ser transportado SEMPRE.

11) O tesouro proporciona conforto apenas para ocorrências de pequena e média gravidade. Para as ocorrências de grande gravidade provavelmente será necessário o acionamento de um resgate. A melhor atitude para estas ocorrências graves é evita-las a qualquer custo. Portanto, não se coloque em situação de risco e não se aventure a fazer algo para o qual não esteja suficientemente preparado.

12) Frente a uma grave ocorrência, todos os tesouros serão abertos para verificação dos recursos disponíveis.

 

ITENS DE UTILIZAÇÃO COLETIVA

Daqui para frente, basta que apenas um membro na equipe possua tal equipamento e que, claro, saiba como utilizá-lo corretamente.

01) GPS. Durante muito tempo a navegação através de mapas e bússola era a única forma de orientação do excursionista em regiões desconhecidas. Atualmente o GPS está sendo amplamente utilizado nesta função. Mas, por evidente, requer que seu operador saiba utilizar seus recursos. E não são poucos. Assim, ler o manual de operação é altamente enfadonho e necessário. Fique atento aos cursos promovidos pelo GPME.

02) Corda. É sempre útil nos trabalhos de prospecção termos á mão uma corda de, digamos, 15 a 30 metros. Ela permite superar pequenos desníveis com absoluta segurança. Mas sua correta utilização requer conhecimentos obtidos anteriormente a sua utilização. Fique atento aos cursos promovidos pelo GPME.

03) Escada de espéleo. Sempre deverá ser utilizada juntamente com uma corda de segurança. Este equipamento é útil para darmos uma rápida espiada em abismos, a fim de avaliarmos se vale a pena sua equipagem. Fique atento aos cursos promovidos pelo GPME.

04) Facão. Trilhas se fecham muito rapidamente caso não sejam utilizadas com frequência ou caso não haja manutenção de tempos em tempos. Entretanto, seja para abrir ou reabrir trilhas, o facão é o equipamento correto ao intento. Quem vai à frente manipula o facão e os demais aguardam atrás em fila indiana a uma distância segura. Manipular o facão requer muita energia e cuidado. O maior risco é cortar-se com a lâmina. Assim, sempre devemos descer a lâmina fora da direção de nossas pernas. Os cortes devem ser feitos sempre de cima para baixo e da direita para esquerda ou da esquerda para a direita. Nas paradas para descanso jamais enterre sua ponta no solo. O risco de alguém desavisadamente chutar a lâmina ao caminhar é muito grande. Quando em desuso, mantenha-o na bainha ou deitado no chão com a lâmina voltada contra um tronco, monte de terra ou uma pedra. Sempre que você avistar um facão em descanso fora de uma posição segura, imediatamente corrija.

05) Pá dobrável ou pá de jardim. Algumas vezes temos que remover sedimentos para forçar passagem num conduto estreito. Carregar uma pequena pá acelera a operação em direção a, quem sabe, um salão ou conduto virgem.

Os itens de utilização coletiva seguem ao infinito. Poderíamos acrescentar a esta lista rádios de comunicação, polias, totó (boia inflável para transporte de mochila), bote inflável, barraca, máscara de mergulho, macaco hidráulico, martelete à bateria, maca sked, animais para transporte de carga, fogareiro para preparar um chá quente ou uma sopa de envelope e outros tantos itens inusitados com vistas a superar alguma dificuldade específica na exploração proposta.

 

RECOMENDAÇÕES AOS EXPLORADORES

Embora os equipamentos proporcionem segurança e conforto nas trilhas e cavernas, a seguir passo a comentar as atitudes que devem ser observadas em trilha e cavernas.

01) Em subidas íngremes ou beiradas de abismo onde haja pedras soltas e pessoas na “linha de tiro”, tome cuidado ao se deslocar. Caso haja o desprendimento de rochas, grite imediatamente em alto e bom som, “PEDRA !!!!”. Sempre que você escutar este chamado desloque-se imediatamente para um local seguro. De outra maneira, mantenha-se afastado de locais onde possa haver a projeção de pedras, terra e cascalho.

02) Não jogue lixo nas trilhas e cavernas. Ao contrário, sempre que possível recolha todo o lixo que encontrar em seu caminho.

03) Não faça coleta de qualquer material que seja caso não esteja amparado por projeto de pesquisa ligada à entidade oficial de ensino.

04) Sempre carregue consigo os itens tidos como individuais e obrigatórios. Sua autonomia em relação ao grupo desonera todos os demais participantes. Nas trilhas e cavernas, não existem problemas individuais: todos os problemas serão problemas de todos.

05) Sempre preste atenção aonde coloca seus pés e suas mãos. Embora sejam muito raros os incidentes com animais peçonhentos, fique atento para não fazer partes das estatísticas.

06) Pela manhã sempre bata suas botas antes de calçá-la. Em locais afastados é bem frequente aranhas, escorpiões e outros bichos procurarem abrigo durante a madrugada no interior de seu calçado, roupas e mochila. Por evidente, o mesmo procedimento deve ser adotado antes de entrar em seu saco de dormir.

07) Respeite seus limites. Se você não se sentir apto a fazer qualquer coisa que seja, não faça.

08) Sempre que tiver dúvidas, pergunte ou poste-as no grupo de discussão.

09) Em situações graves de perigo, tensão e acidentes, procure manter a calma e o cérebro funcionando.

10) Jamais use drogas nem ingira bebidas alcoólicas antes e durante as explorações.

 

BIBLIOGRAFIA

Beck, Sérgio. A Aventura de Caminhar. São Paulo, Editora Ágora Ltda, 1989
Beck, Sérgio. Ratos de Caverna. São Paulo, Cacá Artes Gráficas, 1999
Beck, Sérgio. Com Unhas e Dentes. São Paulo, 2002
Beck, Sérgio. Convite à Aventura. São Paulo, 2002
Beck, Sérgio. Primeiros Socorros em Montanha e Trilha, 1994
Requião, Cristiano. Manual do Montanhista. São Paulo, Livraria Nobel, 1992
Requião, Cristiano. Manual do Excursionista. São Paulo, Livraria Nobel, 1990

 

Texto atualizado em 19/06/2014