Homenagem


Homenagem do GPME em memória à Pierre Martin

 

Por: Michel Le Bret

Extraído e reproduzido na íntegra de “Em homenagem a Pierre MARTIN 1932 – 1986”, Paris – junho de 1987

“A espeleologia brasileira está de luto. Dia 21 de dezembro de 1986 o engenheiro Pierre Martin, um dos fundadores, presidente e dinâmico animador da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) morreu num acidente na estrada. Nascido na França em 12 de maio de 1932 Pierre fez todos os seus estudos primários em Lyon.

Desde a idade de 12 anos ele freqüenta as cavernas e é na “Grotte de Jujurieux” que conhece as suas primeiras emoções subterrâneas.

Em 1950, já morando no Brasil, ele visita a caverna Santana (vale do Ribeira) projetando de completar a exploração. Demorou quase 14 anos antes de realizar o que tinha sonhado naquela época.

Pierre veio de fato à espeleologia por volta dos anos 62-63 depois que o CAP (Clube Alpino Paulista) e alguns grupos excursionistas fizeram publicações nos jornais de São Paulo.

Trabalhando em Londrina fundou um clube de espeleologia, o equipou, treinou seu pessoal e veio freqüentar o vale do Ribeira – Santana, a sua predileta, e cavernas vizinhas. Grandes sucessos na maioria delas.

Em julho de 1964 participa do 1º Congresso Espeleológico Brasileiro, organizado nas matas do Betari. Com o contato dos paulistas, decide participar ativamente do desenvolvimento da espeleologia brasileira.

Posteriormente, trabalhando na Mineração Furnas, começa um levantamento sistemático das cavernas, formando pessoal e guias para trazer informações. Também é graças às suas competências e seus relacionamentos com a prefeitura de Iporanga (SP) que foram ajeitadas algumas cavernas para a visitação turística (Santana, Morro Preto…).

Nessa época, um antigo mestre na mina, Vandir de Andrade, colocou à disposição da SBE um paiol (futura sede de campo) e se tornou guia de cavernas na região. Outro empregado da mina, o Milton, foi contratado pela prefeitura de Iporanga para melhorar o transito e circuito turístico na Santana. Pierre quase sempre escrevia Sant´Anna à moda antiga.

Fixado em São Paulo capital, Martin, sempre participando de numerosas explorações, prepara com os colegas os 2º e 3º congressos nacionais de espeleologia e estuda os estatutos da SBE, sociedade que será fundada em 1969 durante o 4º congresso em Ouro Preto (MG).

Em 1970 Pierre foi eleito presidente da SBE.

Dotado de uma viva inteligência, de grande senso de organização e de uma memória prodigiosa, ele esboçou rapidamente a estrutura da sociedade, formou fichários, cadastros, comissões técnicas e científicas, boletim de interligação, etc.

Soube também estabelecer e manter excelentes relações com os organismos oficiais, as universidades e mais tarde com a União Internacional de Espeleologia.

Sob indicação de um colega, a sua atuação foi consagrada pela obtenção da condecoração “Marechal Rondon”, medalha dada pela Sociedade Geográfica Brasileira a quem se destaca no campo da ciência da terra.

A partir de 1971, ultrapassando o quadro regional, ele orienta decididamente os pesquisadores para as regiões espeleologicamente inexploradas do Brasil. E sob esse impulso que foram realizadas as expedições aos estados da Bahia e de Goiás, chefiadas por ele mesmo nas redes da Angélica/Bezerra e por diversos outros grupos na Terra Ronca, São Vicente, São Mateus, que logo se tornaram as cavidades mais extensas conhecidas no país.

Outros presidentes se sucederam na SBE marcando a orientação da sociedade do seu cunho particular. Porém Pierre sempre participa ativamente de diversas comissões, assumindo cargos executivos. Mais e melhor ainda, ele se torna o Embaixador da SBE. Tendo possibilidades de viagens ao exterior, pelas suas altas funções numa firma multinacional, faz contatos com sociedades congêneres ou federações, visitando presidentes e outras personalidades do ramo.

Convida, no exterior, os colegas a visitar e explorar conosco as cavernas brasileiras e aqueles que tiveram a chance de poder viajar, apreciaram o acolhimento caloroso e fraternal dispensado pelo Pierre, a sua hospitalidade generosa, a sua ajuda eficaz colocando tudo à disposição dos visitantes: alojamentos, equipamentos, veículos…

Pierre Martin partiu. Missão cumprida, e muito bem.

Nosso pensamento emocionado se volta para aqueles que o choram: seus filhos Christine e Albert e principalmente Bruna, a sua esposa, que em todas as circunstâncias, às vezes difíceis, soube tão discretamente e tão eficientemente o ajudar e apoiar.”