Dennys Corbo.
Nos últimos anos o uso do GPS tornou-se corriqueiro. Preços baixos, maior sensibilidade no receptor, softwares e hardwares mais rápidos que permitem navegação com mapas de fundo, anulação da fonte de erro intencional por parte dos militares norte-americanos são alguns dos fatores que contribuíram para seu uso mais disseminado. Mas qual a utilidade de um GPS para um espeleólogo?
Bom, dentro da caverna o GPS deve ir para dentro da mochila, pois o receptor precisa “enxergar” os satélites que estão emitindo os sinais para poder se localizar. No entanto seu uso em trilhas é comum e chega a ser fundamental quando se faz prospecção de novas áreas ou de novas cavernas.
Mais do que registrar as coordenadas da entrada da caverna (“plotar a boca”), o GPS indica qual o caminhamento que a trilha está tomando, de que lado estão as outras trilhas, onde ficou o carro, qual a distância percorrida…
No GPME costumamos fazer um mapa de fundo antes de prospectarmos uma região nova. Consultamos mapas topográficos, mapas geológicos, imagens de satélite, bancos de dados de cavernas e reunimos todas as informações possíveis a respeito da nova região, colocando tudo na forma de um “mapa de fundo”. Ao olhar para o GPS o espeleólogo sabe qual o tipo de rocha que está sob aquele solo, onde estão os rios da região e onde estão as estradas. Mais do que facilitar a vida em campo, estas informações podem ser importantes em caso de emergências e acidentes.
Logicamente o nível de detalhamento do primeiro mapa de fundo de uma determinada região dependerá das fontes que estão sendo consultadas e o posicionamento de tudo é função do bom georreferenciamento destas informações. A cada vez que o grupo vai a campo novas informações sobre a região são coletadas e o mapa fica mais preciso e detalhado.
Figura 1: mapa de fundo da Serra da Onça Parda, uma das regiões onde o GPME atua no PETAR
Em 2007 o GPME foi pela primeira vez a Presidente Olegário, MG. Na ocasião, antes mesmo de sairmos de SP, através de uma análise dos mapas e imagens que dispúnhamos, foi possível marcar os pontos da região onde existia maior probabilidade de ocorrência de cavernas. Desta maneira os resultados desta “1a. Expedição à P.O.” foram maximizados. Foi muito gratificante olhar para o GPS no carro e afirmar “-Daqui a 200 metros vai começar o calcário..” e depois daquela curva na estrada o calcário aparecer. O resultado desta primeira prospecção foi um sucesso e em 2009 já estávamos na 4a. Expedição à P.O., com mais de 100 novas grutas cadastradas na região.
Figura 2: mapa de fundo utilizado na 1a Expedição à Presidente Olegário
No PETAR incluímos o contorno da Gruta Areias de Cima no mapa de fundo do GPS, pois precisávamos investigar a existência de entradas superiores em um determinado ponto da caverna. Caminhar pela mata e saber em que parte da gruta estávamos foi outra experiência bastante enriquecedora. Olhar para a imagem daquela gruta no GPS e para o relevo externo, na mata, encontrando ralos entupidos e grandes dolinas ajudou a compreender um pouco mais sobre a gruta.
A mesma técnica que utilizamos em Areias de Cima estamos utilizando no remapeamento da Caverna Santana para procurar entradas externas.
Figura 3: exemplo de uma caverna inserida no GPS
O GPS é ferramenta fundamental na prospecção e no caminhamento sobre a mata e não é simplesmente para saber qual o caminho da volta! Aproveita-se muito mais aquela saída, os relatórios são mais precisos e uma equipe que nunca andou pela região se beneficia imediatamente dos conhecimentos adquiridos pelas equipes anteriores. Além de auxiliar na prospecção, os dados trazidos do campo para o escritório são fundamentais para a compreensão de como são os sistemas de cavernas de uma determinada região.